- Museu do Neo-Realismo
- O que é o Neorrealismo?
- Cipriano Dourado
[Penhascoso, 1921 – Lisboa, 1981]
Cipriano Dourado nasceu a 8 de fevereiro de 1921 em Penhascoso, concelho de Mação, terra natal de seus pais, que apesar de residentes em Lisboa quiseram que o nascimento dos filhos ocorresse naquela freguesia. Em Lisboa, ainda muito jovem, e após frequentar a Escola Industrial Marquês de Pombal, inicia o seu percurso artístico como autodidata, ao mesmo tempo que começa a trabalhar como desenhador-litógrafo. O seu talento e vocação para as artes plásticas permitiram-lhe sonhar mais alto, tendo anos mais tarde, em 1939, frequentado o curso noturno na Sociedade Nacional de Belas Artes, participando aí pela primeira vez numa exposição. O seu trabalho artístico insere-se no movimento estético neorrealista português, tendo trabalhado incessantemente na produção de muitas centenas de obras nas áreas do desenho, gravura, pintura e aguarela.
O seu traço é rigoroso, ágil e expressivo, e os ritmos ondulados das suas obras exprimem inconfundível e poeticamente os dois temas mais recorrentes: a Mulher e a Terra. Em 1946 começa a participar em exposições coletivas, e em 1947, no Salão de Inverno da Sociedade Nacional de Belas Artes, obtém o 2º prémio Roque Gameiro (Aguarela), e uma Menção Honrosa. A partir de 1947 viaja pela Europa (Espanha, França, Itália, Holanda, Bélgica, Alemanha), visitando museus e exposições, numa atualização empenhada por novas técnicas e correntes estéticas. Em 1949, parte para Paris onde faz um estágio na prestigiada Academia Livre Grande Chaumière. No ano de 1953, participa na experiência coletiva com Alves Redol, Júlio Pomar, Lima de Freitas, e António Alfredo, que consistiu nas jornadas aos arrozais do ribatejo, onde tomaram contacto com os trabalhadores, o seu modo de vida e condições de trabalho, e onde se inspiraram para produzir as obras artísticas que integram o Ciclo do Arroz. Cipriano Dourado produziu dezenas de desenhos, estudos, e litografias, relacionados com aquela experiência, e da sua inspiração na temática, chegaram até nós os belíssimos desenhos de traço delicado e quase lírico que retratam as plantadoras de arroz.
Teve intensa atividade como gravador, e foi um dos pioneiros da gravura portuguesa contemporânea. Foi membro fundador da Gravura – Sociedade Cooperativa de Gravadores Portugueses (1956), de cujas Direção e Comissão Técnica fez parte em diversos períodos. Participa em todas as exposições itinerantes de Gravura Portuguesa Contemporânea organizadas pela Sociedade, a partir de 1956, em Portugal (continental e colonial) e no estrangeiro, que então obtiveram um assinalável sucesso e projeção daquela técnica como meio expressivo e artístico. Foi membro do júri da I Exposição Nacional de Gravura, realizada em 1977 na Fundação Calouste Gulbenkian. Foi sócio e fez parte dos corpos dirigentes da Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa. O seu percurso artístico passou também pela atividade de ilustrador, tendo feito inúmeros trabalhos para ilustrar livros de poesia e prosa de prestigiados autores portugueses, entre os quais neorrealistas, e de escritores estrangeiros, podendo destacar-se: Aleluia, de Orlando Gonçalves; A Paz Inteira, de Armindo Rodrigues; Serranos, de Mário Braga; Sete Odes do Canto Comum, de Orlando da Costa (apreendido pela PIDE no prelo); Sombra de Fumo, de Augusto Gil; O Livro das Mil e Uma Noites e 20 Poemas de Amor e uma Canção Desesperada, de Pablo Neruda; Canções para a Primavera, de José Carlos de Vasconcelos; O Amante de Lady Chaterley, de D. H. Laurence.
Colaborou também em publicações periódicas diversas, nomeadamente a Vértice, Seara Nova, Colóquio-Letras, Cassiopeia-Antologia de Poesia e Ensaio, Árvore-Folhas de Poesia, entre outras. Desenhou para os CTT, 4 selos para uma Emissão Comemorativa do Ano da Conservação das Zonas Húmidas (1976). Foi professor convidado na Escola de Artes Decorativas António Arroio (1978/1981), onde lecionou desenho, gravura e artes gráficas. Está representado no Museu de Arte Contemporânea-Museu do Chiado, no Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, no Museu do Neo-realismo de Vila Franca de Xira, no Museu Municipal Professor Joaquim Vermelho, de Estremoz, no Museu Municipal Manuel Soares de Albergaria, Carregal do Sal, no Museu da CGTP, no Museu de Angola, e em numerosas coleções públicas e particulares. Cipriano Dourado faleceu em Lisboa a 17 de janeiro de 1981.
Exposições (seleção)
1947 – Salão de Inverno. Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa
1949/50/51/53/54/55/56 – Exposições Gerais de Artes Plásticas. Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa
1952 – Exposição de Gravura Moderna. Faculdade de Ciências, Lisboa
1953 – Aprovação da candidatura para a Bienal de São Paulo, Brasil. (Não chegou a participar)
1955 – Modernos Gravadores Portugueses. Galeria Artes e Letras, Lisboa
1956 – I Salão dos Artistas de Hoje. Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa
1957 – I Exposição de Artes Plásticas. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa; I Bienal Internacional de Gravura. Tóquio; Pavilhão de Portugal na Feira de Lausanne, Suíça
1958 – I Salão de Arte Moderna. Casa da Imprensa, Lisboa; Gravura Portuguesa Contemporânea, Museu de Gotemburgo, Suécia
1959 – Exposição de Gravura Portuguesa. Galeria Abril, Madrid; Calcografia Internacional, Roma; 50 Artistas Independentes. Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa
1960 – Exposição de Gravura Portuguesa. Stuttgard
1961 – Exposição em Nuremberga, Alemanha
1969 – Exposição na Fundação Gulbenkian, Paris
1976 – InterGrafik’76. Berlim, RDA
Homenagens e exposições póstumas (seleção)
1981 – Homenagem Retrospetiva – III Bienal de Artes Plásticas. Festa do Avante; Antevisão do Centro de Arte Moderna. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa
1982 – O Desenho na Obra de Cipriano Dourado. Galeria Municipal, Amadora; Exposição de Cipriano Dourado. Salão da Biblioteca Municipal, Estremoz
1983 – Exposição de Cipriano Dourado. Centro Cultural e Desportivo da Efacec, Lisboa
1984 – Exposição de Cipriano Dourado. Biblioteca Municipal, Nisa
1986 – Gravuras dos Artistas Fundadores (30º aniversário da Cooperativa Gravura)
1988 – Gravuras de Cipriano Dourado – III Salão Maçaense de Arte. Museu Municipal Dr. João Calado Rodrigues, Mação
1989 – Exposição Comemorativa dos 50 anos de “Gaibéus” de Alves Redol. Fundação Calouste Gulbenkian
1990 – Dourado – Desenho, Gravura, Pintura. Galeria Municipal, Vila Franca de Xira
1991 – Dourado – Desenho, Gravura, Pintura. Museu Municipal/Casa do Adro, Loures; Lisboa Século XX nas Artes Plásticas. Palácio Galveias, Lisboa
1992/1993 – Arte Portuguesa dos Anos 50. Sociedade Nacional de Belas Artes, Beja e Lisboa
1995 – O Neo-Realismo em Gravura. Vila Franca de Xira
2000 – Litografias de Cipriano Dourado – 7ª Bienal/1ª Internacional de Gravura da Amadora. Casa Roque Gameiro, Amadora; Galeria Municipal, Loures
2001 – Homenagem em Penhascoso, Mação, com descerramento de placa na casa onde nasceu e a inauguração do “Largo Cipriano Dourado”; Exposição de Desenho, Gravura e Pintura. Biblioteca Municipal Calouste Gulbenkian, Mação
2004 – Cipriano Dourado 1955. Galeria ISPA, Lisboa
2005 – Um Tempo e um Lugar – Dos anos quarenta aos anos sessenta – Dez exposições Gerais de Artes Plásticas. Museu do Neo-Realismo, Celeiro da Patriarcal, Vila Franca de Xira
2006 – 50 Anos de Gravura Portuguesa – Uma Plataforma para o Futuro. Palácio da Galeria e Casa das Artes, Tavira; Sociedade Nacional de Belas Artes, Lisboa;
2007 – 50 Anos de Gravura Portuguesa – Uma Plataforma para o Futuro. Fundação Cupertino de Miranda, Famalicão; Uma Arte do Povo pelo Povo e para o Povo – Neo-Realismo e artes plásticas. Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira;
2008/2009 – Cipriano Dourado – Aguarela, Desenho, Gravura, Pintura. Galeria Municipal de Arte, Abrantes; Ilustração & Literatura Neo-Realista. Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira
2010 – Povo/People – Fundação EDP nas Comemorações do Centenário da República. Museu da Electricidade, Lisboa
2013 – A Doce e Ácida Incisão – A Gravura em Contexto (1956-2004). Fundação Caixa Geral de Depósitos – Culturgest; Museu do Neo-Realismo, Vila Franca de Xira
2015 – Cipriano Dourado – Passagens e Memórias. Galeria Centro Cultural Elvino Pereira, Mação.