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Homenagem
Júlio Pomar nasceu em Lisboa, em 1926, tendo crescido com o regime que haveria de marcar, nos anos de juventude, a sua vida artística e política. Iniciou os seus estudos na Escola de Artes Decorativas António Arroio, continuando este percurso pelas Escolas de Belas-Artes de Lisboa e do Porto, período durante o qual a sua obra e a sua ação política se manifestam paralelamente. Esta militância esteve na origem da imposta demolição de uma pintura mural que realizou para o Cinema Batalha, no Porto.
É, sobretudo, o seu humanismo que o aproxima do Neorrealismo, movimento do qual se torna, em pouco tempo, uma figura cimeira. Transportou para a pintura e para o desenho temas da vida social, evocando o trabalho agrícola e operário, e também a pobreza das gentes humildes. Estas temáticas manifestam o seu gosto pela pintura americana contemporânea, de Thomas Benton a Portinari, Orozco e Rivera. Tal como estes, Pomar aspirava a uma arte para o povo, facilmente entendida por todos e que estimulasse a Revolução, então entendida segundo a memória mítica da Revolução Soviética de 1917.
Enquanto escritor colaborou com várias publicações próximas do movimento do Neorrealismo (Vértice, Seara Nova e Horizonte). Já a sua participação política leva-o ao MUD Juvenil e, por consequência, a conhecer as paredes da prisão política em Portugal.
A partir de finais dos anos de 1950, Pomar começa a distanciar-se dos combates de juventude e abandona a militância política, embora se tenha sempre mantido um oposicionista convicto ao Estado Novo. Empenhado na sua afirmação como artista, Pomar fixar-se-á longamente em Paris, onde teve excelente receção crítica e diversifica a sua prática da pintura, cada vez mais experimental. As suas séries temáticas diversificam-se também, muitas delas mantendo elos criativos com a cultura portuguesa.
A generosidade faz de Júlio Pomar um dos mais importantes apoiantes do Museu do Neo-Realismo (MNR), doando algumas obras da sua coleção pessoal. A sua presença constante na grande parede que articula os três pisos do Museu, representa a admiração que este museu tem pelo artista e o reconhecimento da sua importância para a cultura portuguesa. A coleção de Pomar no Museu do Neo-Realismo cresceu por via de legados artísticos de outros autores, homenageando amizades, solidariedades e sonhos partilhados de artistas, escritores, ativistas políticos e colecionadores, nas décadas mais ativas do movimento neorrealista. Pinturas como Descanso (1945) e Carro da Calçada (1950) são algumas das obras que compõem esta coleção e que o MNR continua a divulgar nas suas exposições.
A homenagem que o Museu do Neo-Realismo lhe prestou nos dias da sua despedida contou com outra das suas obras maiores - Parlatório, Caxias – que pode ser vista na exposição de longa-duração “Batalha pelo Conteúdo”, no piso 2. Ela evoca os meses de prisão em Caxias e também a generosidade da escultora Maria Barreira que a ofereceu ao Museu, integrada num vasto e importante espólio. Esta homenagem foi acompanhada pela exibição, no átrio do MNR, de uma entrevista realizada no âmbito da exposição Os Ciclos do Arroz (a 30 de maio de 2016, no atelier da residência do artista).