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- Faleceu o poeta Gastão Cruz
aos 80 anos
Com um percurso literário de mais de 60 anos, foi poeta, mas também ensaísta, tradutor e encenador, e um dos autores mais premiados da literatura portuguesa.
Licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professor do ensino secundário e leitor de Português no King's College de Londres entre 1980 e 1986, onde também lecionou cadeiras de poesia, drama e literatura portuguesa.
No início da década de 70 esteve na génese do Grupo de Teatro Hoje, que também dirigiu, e no âmbito do qual encenou peças de autores como Crommelynck, Strindberg, Camus, Tchekov ou uma adaptação sua de Uma Abelha na Chuva, de Carlos de Oliveira. O gosto pelo teatro e pela poesia revelou-se também na tradução de títulos dramáticos de autores como Strindberg, Shakespeare ou Cocteau.
Iniciou-se na poesia ainda nos tempos de estudante universitário, em finais dos anos 50, escrevendo poemas e crítica literária em jornais e revistas. Em 1961, com apenas 19 anos, publicou o seu primeiro livro, A Morte Percutiva, no volume coletivo Poesia 61, que reúne textos de Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão, Luiza Neto Jorge e Maria Teresa Horta, e que é considerado um dos principais contributos para a renovação da linguagem poética portuguesa na década de 1960.
Na mesma altura participou nas greves académicas de 1962 e foi um dos organizadores da Antologia de Poesia Universitária (1964), que deu a conhecer autores como Manuel Alegre, Eduardo Prado Coelho, António Torrado, José Carlos Vasconcelos, Luísa Ducla Soares e Boaventura Sousa Santos. Continuará a desempenhar ao longo de toda a sua vida um papel fundamental na divulgação, promoção e crítica da poesia, da literatura, do teatro e da música.
Publicará diversificada e extensa obra, de onde destacamos O Pianista (1984), Prémio Pen Clube de Poesia; Crateras (2000), Prémio D. Dinis; Rua de Portugal (2002), Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e Grande Prémio de Literatura dst; Repercussão (2004), Grande Prémio de Literatura dst – Braga; A Moeda do Tempo (2006), Prémio Pen Clube de Poesia e Prémio Literário Casino da Póvoa/Correntes d’Escritas. O seu último livro, Existência (2018), que constituiu "uma poderosa reflexão sobre a vida, a memória, o envelhecimento e o espectro da morte", como escreve a editora Assírio & Alvim, na apresentação da obra, valeu-lhe pela segunda vez O Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores. Na área do ensaio sobre poesia destaca-se A Poesia Portuguesa Hoje (1973) e, mais recentemente, em 2008, A Vida da Poesia -- textos críticos reunidos.
Em 2018 recebeu a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pelo Governo português, "em reconhecimento do inestimável trabalho de uma vida dedicada à poesia".
Gastão Cruz foi um amigo do Museu do Neo-Realismo, tendo connosco colaborado em diversas ocasiões, nomeadamente na Sessão Evocativa do Centenário de Políbio Gomes dos Santos, em 2012 e, mais recentemente, em 2017, em atividades da programação paralela da exposição Carlos de Oliveira: a parte submersa do iceberg, para a qual também contribuiu através da cedência de obras e documentação do seu espólio pessoal.
A Câmara Municipal de Vila Franca de Xira e o Museu do Neo-Realismo apresentam as mais sinceras condolências à sua família e amigos.