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- Exposição “uma poética resistente”
















Museu do Neo-Realismo em Cabo Verde
Numa parceria entre o Museu do Neo-Realismo e o CNAD - Centro Nacional de Arte, Artesanato e Design, (Mindelo, Ilha de São Vicente), inaugura no próximo dia 20 de fevereiro, pelas 18h30, a exposição "Uma poética resistente - pintura, desenho, gravura e fotografia na Coleção do Museu do Neo-Realismo". São cerca de 60 obras de artistas como Júlio Pomar, Maria Barreira, Rogério Ribeiro, Querubim Lapa, José Dias Coelho, Alice Jorge, Júlio Resende, Erika Stone, João Hogan, Jorge Vieira, Cipriano Dourado, Dorindo Carvalho, Hansi Stäel, Jean Manzon, Jorge de Almeida Monteiro ou Sá Nogueira, entre outros. Para visitar até 22 junho próximo.
"Entre promessas de transformação e poéticas resistentes, uma fatura de modernidade estética particulariza os resultados do neorrealismo português, mesmo quando retrata a “figuração do povo” e as suas condições sociais mais desfavoráveis. Ao mesmo tempo, a matriz de pluralidade formal da produção artística desse período e o sentido crítico da sua comunicação devem apoiar ainda uma distinção inequívoca face ao retorno da “figuração”, da “história” e da “identidade” que assistiu as políticas oficiais dos regimes ditatoriais da Europa, que insistiram no controlo sobre os significados da arte, tendo em vista a perpetuação dos poderes instituídos. Nestes prevaleciam valores mais conservadores e académicos, definidos por um realismo associado à mimetização naturalista e à monumentalização hierática exigida aos propósitos de glorificação dessas “figuras” – traduzidas na idealização heroica do operariado e do campesinato (realismo socialista soviético) ou na reconfiguração desse ideal clássico do corpo atlético, pretensamente purificado pela “superioridade racial” (Alemanha nazi).
Longe dessas 'figuras de autoridade' (Benjamin H. D. Buchloh), o neorrealismo recorre a um abundante tecido de referências, resolvido na concordância formal entre o regresso da figura e a sua tradução moderna. Ao mesmo tempo, o neorrealismo observa ainda, para além de uma esperança no poder da arte, nas vantagens da sua empatia concreta, um imperativo ético, o empenho de uma mensagem mais ou menos explícita e não ilustrativa do seu conteúdo social e político. Esta mensagem, feita de cores e de vozes, visa alcançar uma visão incómoda e mesmo crítica do poder vigente, apresentada, porém, como declaração de um “amor ao povo”, ao denunciar as suas dificuldades e sofrimentos, sem esquecer uma atenção lírica aos seus costumes, desejos e ambições. O que aí se constrói, a partir de um apelo mais consciente da realidade social, é a defesa de um humanismo crente na construção de um mundo melhor, onde os mais desfavorecidos terão a sua oportunidade, na qual recai esse plano de transformação, apoiado nas ideias de resistência, ação e progresso."
(David Santos)