- Museu do Neo-Realismo
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- Pintor Nuno San-Payo - Exposição Antológica
Curadoria de Rui-Mário Gonçalves
"No final dos anos quarenta e início dos cinquenta, Nuno San-Payo concebia a figura humana de um modo que não separava emoção de verdade. Simultaneamente com a atitude ideológica que veio a caracterizar o Neo-Realismo, o apuramento da capacidade de exprimir e de comunicar constituía uma exigência estética que, para progredir seriamente, dava prioridade à sinceridade emotiva e à verdade comum.
Nessa época, descobrir as potencialidades da arte era também descobrir a vida. Porém, as informações sobre uma e outra não eram facilmente adquiríveis. Uma alegria muito íntima surgia, portanto, ao reparar-se que, se uma figura humana aparecia no jogo de linhas e de manchas, era como se a própria noção de humanidade se tornasse mais clara e mais presente para o autor e, mercê do poder contagiante da arte, também mais clara para todos.
Compreende-se que Nuno San-Payo tenha tido necessidade de se entregar posteriormente, durante alguns anos, desde 1954, ao puro jogo das formas e das cores, quer no abstraccionismo geométrico a que chegou por simplificação da representação dos objectos, quer no informalismo que muito deveu à movimentação das manchas. Mas voltou neo-figurativamente, em simulacros de altos contrastes e outros padrões visuais da era da comunicação de massas, à representação da humanidade, com os seus rostos, os seus corpos amalgamados nas ruas das cidades, os seus gestos de solidão que silenciosamente esperam por outros encontros mais amáveis.
Uma das qualidades que aprecio na obra de Nuno San-Payo é a coerência de cada quadro. Assim, ao concluir um quadro, o pintor tanto pode querer retomar o mesmo tema e técnica, como pode partir para algo diferente. Ele fez séries, é verdade. Mas cada quadro individualiza-se completamente.
O expressionismo de Nuno San-Payo corresponde ao seu modo de entender as pessoas comuns, os trabalhadores do campo e do mar, as varinas, sem os representar de modo teatral. Também não há miserabilismo. Há, simplesmente, gestos que se cumprem com determinação e serenidade, tanto no trabalho, como no lazer e no divertimento.
Na aproximação humana, a bonomia é talvez a mais imprescindível qualidade pessoal, pois imediatamente estabelece a tolerância mútua. Eis uma qualidade que não falta a Nuno San-Payo e que transparece na sua pintura."