- Museu do Neo-Realismo
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- Os Relatos de um Fotógrafo Famoso | Nikolai Nekh
Curadoria de David Santos
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É em torno da evolução sobre os processos de significação em fotografia das alterações de procedimento e impulso fotográfico na abordagem a uma notícia, que Nikolai Nekh nos propos no auditório e em diversos espaços de circulação do Museu do Neo-Realismo, uma instalação que combina a conceptualização de vários elementos visuais de expressão interdisciplinar (vídeo, fotografia, recortes, objetos) e que nos conduzem a uma reflexão sobre os relatos da fotografia, considerando não só as próprias palavras de Weegee sobre o seu exercício como repórter “freelancer”, como ainda um conjunto de vídeos e fotografias tiradas após a queda em 2009 do Voo 447 da Air France, ao largo do nordeste brasileiro, em pleno Oceano Atlântico.
Entre as palavras de Weegee e a ambiguidade fragmentária do discurso noticioso sobre esse acidente aéreo, Nikolai Nekh realiza com o vídeo “Os Relatos de um Fotógrafo Famoso” (2012) um exercício meticuloso e de grande alcance sobre as diferenças de qualidade que se verificam entre aqueles que, em épocas distintas, chegam em primeiro lugar ao local do acidente e, por conseguinte, da notícia. Como é hoje produzida a primeira imagem do que aconteceu? São fotógrafos profissionais que a fazem, ou, pelo contrário, qualquer um de nós que, com os dispositivos fotográficos hoje massificados (máquinas fotográficas digitais, telemóveis, smartphones, tablets), acaba por estar no lugar certo à hora certa? Quando Nikolai Nekh recupera a gravação de uma entrevista radiofónica de Weegee e a associa às imagens filmadas pelos militares que viram em primeiro lugar os destroços do Voo 447 da Air France, o artista procura acentuar as diferenças de discurso, prática e resultados do que identificamos como a “imagem da notícia”.
Por outro lado, enquanto ouvimos as declarações de Weegee observamos a lenta e enigmática deslocação de um imenso iceberg, só interrompido pelas curtas imagens vídeo que os militares captaram na aproximação ao local do acidente de aviação. Entre as palavras ouvidas e as imagens que fixam os nossos olhos, percebemos como a narrativa de Weegee nos prende os sentidos e a imaginação, transformando assim o testemunho de um repórter fotográfico não só numa máquina do tempo como numa extraordinária, ainda que involuntária, reflexão sobre o modo aleatório, casual e quase arbitrário, como hoje as imagens noticiosas são produzidas ou difundidas (muitas vezes sem qualquer edição) pelos canais de televisão e, mais rapidamente ainda, pela própria internet.