- Museu do Neo-Realismo
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- Jorge Amado e o Neorrealismo Português
Curadoria de João Marques Lopes
A receção inicial dos romances de Jorge Amado em Portugal decorreu essencialmente em revistas literárias influenciadas pelo neorrealismo, como O Diabo e Sol Nascente, sobretudo entre 1937 e 1940. Mário Dionísio, Joaquim Namorado, António Ramos de Almeida e outros salientaram logo a capacidade amadiana de representação ficcional do movimento dialético da vida, a brasilidade das personagens, dos ambientes e da linguagem, a potencialidade da universalização dos conflitos materiais e morais postos em cena, e o entrosamento do lirismo e da prosa.
Porém, as maiores provas do prestígio simbólico de que Jorge Amado desfrutou entre os nossos pares nem sequer veio da crítica literária, mas sim da própria prática intertextual dos nossos primeiros romances neorrealistas. Em Gaibéus (1939), Redol abria com um prefácio que retomava o veio documental e “anti-literário” do de Cacau, representava um mundo relativamente parecido de trabalhadores rurais e tomava emprestado do baiano o procedimento da reiteração. Tal prestígio simbólico encontrou uma contrapartida do lado do romancista baiano, que não só publicou textos a exaltar o labor ficcional de Soeiro Pereira Gomes ou Fernando Namora, mas também manteve relações pessoais e literárias duráveis com Mário Dionísio ou Alves Redol.
Entrementes, na transição do inicial compromisso comunista ao lastro mais democrático da intervenção cívica contra a ditadura salazarista e ao sucesso mediático de Gabriela, já depois do 25 de Abril de 1974, Jorge Amado foi construindo uma imagem aberta e plural que o tornou conhecido do grande público português. Nesta exposição deixamos sobretudo o registo das conexões literárias entre Jorge Amado, o neorrealismo e os neorrealistas, sem dúvida das mais relevantes que o escritor baiano estabeleceu em Portugal.