- Museu do Neo-Realismo
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- Ilustração & Literatura Neo-Realista
Cuaradoria de David Santos e Luísa Duarte Santos
Um dos grandes desígnios do movimento neo-realista consistia em desenvolver uma arte de valor e intervenção social, empenhada acima de tudo, no imediato pós-guerra, na democratização do sistema político e na transformação das condições de vida dos portugueses. Se, tal como defendera Júlio Pomar nesses anos, “tanto os interesses imediatos, como os objectivos gerais dos artistas agrupados em torno do novo realismo, [visavam] a mais ampla e socialmente proveitosa utilização da arte pelas massas”, então, pela sua maior projecção social ligada ao mercado editorial, o livro e os periódicos culturais significaram para o neo-realismo visual português uma espécie de meio privilegiado, onde mais facilmente se podia apresentar o desenvolvimento desse trabalho de ilustração que teve à época uma produção profícua e bastante decisiva na divulgação da nova corrente estética, com destaque para artistas como Júlio Pomar, Manuel Ribeiro de Pavia, Víctor Palla, Cipriano Dourado, Lima de Freitas, Alice Jorge, Maria Keil ou Rogério Ribeiro.
O neo-realismo significara então para esses jovens artistas não só uma mais forte e arrojada opção estética face ao modernismo academizado da segunda geração, como uma rara oportunidade de reflexão humanista que alimentaria a esperança de uma verdadeira transformação progressista da sociedade portuguesa. Os artistas neo-realistas foram então chamados a colaborar com desenhos e ilustrações na edição dos principais volumes de escritores neo-realistas como Alves Redol, Manuel da Fonseca, Mário Dionísio, João José Cochofel, Soeiro Pereira Gomes, Carlos de Oliveira, Fernando Namora, Joaquim Namorado ou Mário Braga, entre outros. Casos houve, porém, como os de Câmara Leme, António Charrua ou Sebastião Rodrigues que, não tendo assumido ao nível do desenho uma postura criativa de expressão neo-realista, ilustraram por diversas ocasiões alguns dos autores mais decisivos do movimento, tendo com eles uma relação de mútua admiração.
Esta exposição documental, que reúne ainda originais de desenho, históricas monografias e ilustrações de época, procura assim apresentar alguns dos melhores resultados artísticos e editoriais dessa estreita relação mantida durante décadas entre artistas e escritores neo-realistas.
David Santos e Luísa Duarte Santos