- Museu do Neo-Realismo
- Exposições
- Escrevivendo Urbano
Curadoria: Luísa Duarte Santos e Sílvia Araújo Igreja
"O Museu do Neo-Realismo tem desenvolvido uma actividade programática assente na investigação e divulgação da cultura portuguesa, em particular, a que nos aproxima do movimento neo-realista, isto é, de uma leitura mais ampla e plural sobre o seu significado. “Escrevivendo Urbano”, exposição biobibliográfica dedicada ao escritor Urbano Tavares Rodrigues, insere-se, assim, como momento maior de um percurso museológico que insiste em promover novas linhas de investigação e leitura em torno de alguns dos maiores valores da literatura portuguesa do último século.
Ainda que o percurso literário do escritor, iniciado ao nível da ficção com “A Porta dos Limites” (1952), não se reduza, evidentemente, ao desejo de intervenção social que caracteriza o neo-realismo, tendo no existencialismo e no “nouveau roman” outras influências estilísticas decisivas, o seu labor não deixa estar sempre ligado, nas suas diversas fases, a uma profunda utopia sobre a transformação da sociedade. Esse desígnio é, aliás, uma das suas mais coerentes características, confirmando Urbano Tavares Rodrigues como um dos escritores que, numa segunda fase do movimento neo-realista, mais contribuiu para um lirismo empenhado na simultânea descoberta do ser humano e do seu significado político e social. Desse período ficaram-nos obras como “Uma pedrada no charco” (1957), “Bastardos do Sol” (1959), “As aves da madrugada” (1959) e “Nus e Suplicantes” (1960) e “Os Insubmissos” (1961), narrativas marcadas pela atmosfera opressora do regime salazarista e pela necessidade de uma libertação social, individual e colectiva.
O incansável labor literário de Urbano Tavares Rodrigues traduziu-se, no entanto, ao longo de quase seis décadas, numa vasta produção que em muito supera a sua dimensão realista, incluindo romances que investem mais no sentido poético do amor ou na apreciação dos pequenos rumores da vida, ou ainda inúmeros ensaios (alguns deles de reflexão sobre os destinos do neo-realismo português) que nos ajudam a compreender, por dentro, a idiossincrasia da literatura portuguesa das últimas décadas. O número de títulos publicados pelo escritor nos mais diversos géneros literários dá conta de uma extraordinária actividade, como se viver e escrever formassem de facto um novo verbo: escreviver. Verbo inventado por Urbano em 1970 a propósito de uma primeira edição dos seus “ensaios literários”. Por isso, a inevitabilidade do título escolhido para esta exposição: “Escrevivendo Urbano”, que remete, no entender das curadoras Luísa Duarte Santos e Sílvia de Araújo Igreja, para uma plena consciência da indissociabilidade destas duas dimensões em Urbano Tavares Rodrigues e matriz de uma ambição partilhada connosco, a busca de um mundo melhor."
Textos das curadoras
Luísa Duarte Santos
Sílvia de Araújo Igreja
Ensaio de Nuno Júdice