- Museu do Neo-Realismo
- Exposições
- Eduardo Matos - The Return of the Real
Curadoria de David Santos
O museu de arte é hoje um templo de legitimação que, apesar dos abalos críticos dos anos 60 e 70, tudo parece absorver em seu favor, convertendo-se cada vez mais num lugar incontestado ao assumir-se inclusive como paradigma da interdisciplinaridade artística contemporânea. No entanto, se a percepção da experiência de receptividade observada nos museus remete desde logo para as ideias de silêncio contemplativo e rigor comportamental, a verdade é que há sempre margem para a ambiguidade interpretativa dos seus significados.
Neste contexto, Eduardo Matos (n.1970) apresenta-nos uma projecção-vídeo que resulta, em parte, desta atmosfera específica em torno do aparato perceptivo de um espaço expositivo como o do Museu do Neo-Realismo, nomeadamente a sua fusão entre a arquitectura e o formalismo museográfico, entre o registo da vigilância e o gesto associado ao acto da visita. O próprio dispositivo da imagem, situado entre o filme (que mais parece determinado pelo sistema de videovigilância) e a fotografia (pela promoção de certos aspectos de imobilidade), traduz um sentimento de indefinição visual e suspensão do seu sentido. Por outro lado, inspirado pelos conceitos deleuzianos de “diferença” e “repetição” [1], o artista encena pequenas variantes sobre a experiência da partilha (entre profissionais do museu e o público visitante) de um espaço museológico carregado de simbolismo, mas igualmente associado à contemporânea musealização de todos os temas ou objectos patrimoniais. A este regime de representação do espaço e da sua ocupação, Eduardo Matos acrescenta ainda um sentido de enleio, quase hipnótico, ao repetir ininterruptamente, na imobilidade intermitente dessas figuras, uma perspectiva circular que inviabiliza qualquer hipótese de estabilidade sobre a noção de espaço expositivo e a sua expressão humana.
[1] Cf. Gilles Deleuze, Diferença e Repetição, (1968), (trad. port.), Lisboa, Relógio D’Água, 2001.