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- Alves Redol e a Fotografia
Curadoria de David Santos e António Mota Redol
A experiência fotográfica e o exercício literário redoliano têm uma história em comum capaz de surpreender a leitura que ainda hoje fazemos de Alves Redol enquanto escritor concentrado apenas na palavra e no seu significado humanista. A ligação de Redol com a imagem fotográfica é, afinal, uma constante desde o início do seu percurso literário, resultado do impulso etnográfico que esteve na origem do seu entusiasmo e curiosidade para com o “outro” social, e ainda de um apreço demonstrado de diversas formas, ao longo dos tempos, em torno da imagem tecnologizada, com expressão não só na autoria de muitas séries fotográficas, como na produção de argumentos e diálogos para vários filmes do cinema português dos anos 50.
A “máquina-de-tirar-retratos”, tal como lhe chamou Jorge Reis ao testemunhar a sua parceria nessa aventura etnográfica, acompanhou Redol na maioria das jornadas de “trabalho de campo” que realizou ao longo de mais de vinte anos, tornando-se um parceiro inseparável, apesar de secundário em termos autorais relativamente ao poder do verbo e da narrativa. Talvez pela aparente menoridade do seu “papel”, a ligação da fotografia à literatura do autor permaneceu até hoje demasiado esquecida, apesar de liderar em realismo e autenticidade gráfica um exercício deliberado de registo directo sobre o real que o converteu ao mesmo tempo num instrumento de apoio imprescindível à investigação. Nesta se projecta parte do conhecimento que apoia e determina o perfil narrativo de cada obra, pois sem o auxílio da fotografia esse “trabalho de campo” não teria registado o mesmo rigor descritivo, nem o mesmo critério de selecção sobre os detalhes iconográficos que se lhe ofereciam como novidade absoluta.