- Museu do Neo-Realismo
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- Adelino Lyon de Castro - O Fardo das Imagens (1945-1953)
Curadoria de Emília Tavares
A Exposição foi realizada em 2011 no Museu Nacional de Arte Contemporânea – Museu do Chiado, na sequência da importante doação, em 2009, por parte de Tito Lyon de Castro, do espólio do fotógrafo.
A sua apresentação no Museu do Neo-Realismo prossegue uma enriquecedora colaboração iniciada, em 2009, com a exposição Batalha de Sombras, dando assim a conhecer mais um capítulo do património fotográfico nacional, das décadas de 40 e 50 do século XX.
Adelino Lyon de Castro foi figura de destaque do meio editorial e das letras, mas a sua actividade como fotógrafo é praticamente desconhecida. Muito embora fosse um fotógrafo amador realizou, entre meados da década de 1940 e 1953, ano da sua morte, um importante conjunto de imagens cuja temática se apresenta coesa e consistente com as suas ideias políticas de oposição ao Estado Novo, assim como ao ideário de um socialismo humanista.
Apesar do carácter diversificado da sua obra, nas suas imagens é privilegiado o olhar sobre as mais duras condições de vida dos trabalhadores ou dos excluídos da sociedade, sob a inspiração do “romantismo revolucionário”(Henri Lefebvre) tão influente para alguns neo-realistas, O fotógrafo legou-nos um extraordinário e inesperado diário visual do labor, da pobreza e da exclusão enquanto estados de degradação social, e do papel que a fotografia pode ter enquanto meio de denúncia e ensinamento sobre a realidade.
A heterogeneidade formal das suas imagens enquadra-se na diversidade estética que o influenciou, sendo bem patentes as aproximações naturalistas ou mesmo a uma poética naif, tão comuns ao hibridismo praticado pelos fotógrafos amadores salonistas.
A obra de Adelino Lyon de Castro não é paradigma de nenhuma ortodoxia estética, antes o reflexo duma consciência humanista que pode acolher as manifestações ecléticas dum realismo sentido.
Uma obra que permite múltiplas leituras para além da sua estrita produção realçando outras vertentes da história da arte e da fotografia portuguesas do pós-guerra, tendo a dualidade realidade /naturalismo, forma/conteúdo, denúncia e assimilação como pano de fundo.
Além do fotógrafo vislumbra-se uma época que esta exposição pretende também dar a conhecer, incluindo algumas obras do acervo do Museu do Neo-Realismo, no quadro duma reflexão abrangente sobre os percursos acidentados da conciliação entre a expressão estética e o seu exercício crítico da realidade.
Emília Tavares