- Museu do Neo-Realismo
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- Alves Redol
- Vila Franca de Xira, 1911 – Lisboa, 1969
Alves Redol, figura pioneira do neorrealismo português, nasceu em Vila Franca de Xira a 29 de dezembro de 1911.
Filho de um pequeno comerciante, obteve um curso comercial, partindo em 1928 para Luanda, onde viveu experiências profissionais que iria mais tarde considerar decisivas para a sua formação política. De regresso a Portugal, em 1931, desenvolve várias atividades profissionais, ao mesmo tempo aprofunda o seu gosto pela escrita e colabora em diversos jornais e revistas, designadamente em publicações locais, como Vida Ribatejana, Goal ou Mensageiro do Ribatejo, mas também em O Diabo, Sol Nascente e Vértice.
Empenhado na luta pela democracia, milita no Partido Comunista Português a partir do início dos anos 40, é perseguido pelo regime, sendo preso duas vezes pela polícia política do Estado Novo.
Participa ativamente na vida da sua região, desenvolvendo intensa atividade cultural e política, sendo o principal dinamizador, entre os anos 30 e 40, do grupo de jovens que ficou conhecido por grupo neorrealista de Vila Franca de Xira, que integrava Soeiro Pereira Gomes, Dias Lourenço, Garcez da Silva, Bona da Silva e Arquimedes da Silva Santos.
Foi o impulsionador dos chamados ‘Passeios no Tejo’, passeios culturais e políticos organizados nos finais da década de 30 e início de 40 em Vila Franca de Xira, que juntavam intelectuais que, iludindo a vigilância da PIDE, preparavam a luta contra a ditadura, e onde participaram Álvaro Cunhal, António Dias Lourenço, Soeiro Pereira Gomes, Fernando Lopes Graça, Manuel da Fonseca, Bento de Jesus Caraça, entre outros. Em 1953 foi também o principal dinamizador da experiência coletiva que ficou designada por ‘Ciclo do Arroz’, onde participaram Júlio Pomar, Cipriano Dourado, António Alfredo, Rogério Ribeiro e Alice Jorge.
A 17 de junho de 1936 profere no Grémio Artístico Vila-franquense a sua conferência Arte, onde critica o futurismo e a “arte pela arte” da “Presença” e defende uma arte interventiva, socialmente empenhada e útil, numa aproximação clara aos pressupostos do realismo social.
É considerado pioneiro do movimento neorrealista com o seu romance de estreia Gaibéus (1939), ao assumir o compromisso estético e social que congregou uma nova geração em torno da transformação da sociedade portuguesa e que ficou expresso na curta mensagem que o precede: “Este romance não pretende ficar na literatura como obra de arte. Quer ser, antes de tudo, um documentário humano fixado no Ribatejo. Depois disso, será o que os outros entenderem”.
Trouxe para o universo da ficção os trabalhadores, os explorados e as suas lutas, em romances como Avieiros (1942); Fanga (1943); Vindima de Sangue (1953); A Barca dos Sete Lemes (1958); Uma Fenda na Muralha (1959); Barranco de Cegos (1961), entre muitos outros.
A sua vasta produção literária inclui também contos, como Nasci com Passaporte de Turista (1940) ou Constantino, Guardador de Vacas e de Sonhos (1962); teatro, como Forja (1948) ou O Destino Morreu de Repente (1967); estudos de carácter etnográfico, resultantes da curiosidade sobre a vida real do ribatejo profundo, como Glória: Uma Aldeia do Ribatejo (1938) ou Romanceiro Geral do Povo Português (1964); e literatura infantojuvenil, Vida Mágica da Sementinha (1956) e a série ´A Flor´, quatro livros elaborados de acordo com uma gradação de aprendizagem de leitura: A Flor Vai Ver o Mar (1968), A Flor Vai Pescar num Bote (1968), Uma Flor Chamada Maria (1969) e Maria Flor Abre o Livro das Surpresas (1970).
Alves Redol faleceu em Lisboa a 29 de novembro de 1969. O seu funeral, fortemente reprimido pela PIDE, foi acompanhado por milhares de pessoas que quiseram prestar homenagem ao “escritor do povo”.
Com sede na cidade de Vila Franca de Xira, a Associação Alves Redol dedica-se à divulgação da vida e obra do escritor. Também a Associação Promotora do Museu do Neo-Realismo, cujo Presidente é António Mota Redol, filho único do escritor, tem tido um papel fundamental na divulgação do trabalho do escritor e do neorrealismo em geral, nas suas diversas vertentes.
Uma parte considerável do espólio do escritor foi entregue ao Museu do Neo-Realismo pelo herdeiro em 2006. A formalização da doação ocorreu em 2007, aquando da inauguração do Museu atual edifício, que lhe tem dedicado inúmeras atividades e exposições, designadamente a exposição Alves Redol, Horizonte Revelado no centenário do seu nascimento, em 2011. No âmbito desta exposição foi incorporada uma segunda entrega de documentos de espólio, tendo sido formalizada a doação em 2020.
Fonte
Catálogo da Exposição Alves Redol, Horizonte Revelado, Museu do Neo-Realismo, 2011.
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A literatura infantil Alves Redol: 'Escrever para crianças é uma interrogação a qual não sei se correspondo bem': ...
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'Horizonte cerrado; ciclo port-wine I': romance, V. F. Xira, 5 dez. 1947, Original manuscrito
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Relatório nº 1214 dos Serviços de Censura de 12 de fevereiro de 1940, relativo ao livro 'Gaibéus'
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'A vida mágica da sementinha: uma breve história do trigo', il. Rogério Ribeiro, 1956
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'Sombra e sangue'. In Almanaque, jul. 1960
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'Horizonte cerrado: ciclo port-wine I': romance, capa e ilustração de Júlio Pomar, 2ª ed., 1949
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'Marés', capa de Manuel Ribeiro de Pavia, 1ª ed., Lisboa: Portugália, 1941
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'Gaibéus', 2ª ed., Lisboa: Livraria Portugália, 1941
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Alves Redol com o livro 'Gaibéus', anos 50
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'Gaibéus' , 1ª ed., Lisboa: De Autor, distrib. Livraria Portugália, 1939
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'Glória': uma aldeia do Ribatejo, il. Júlio Góis, 1938
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Alves Redol com os amigos Emílio Diniz Lopes e Antero Ferreira, anos 20, 1924-5?.
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'Arte', capa de Júlio Goes, Vila Franca de Xira: Alves Redol, 1936
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Alves Redol com quadro de Lima de Freitas, casa de Caxias, 1965-1969