- Museu do Neo-Realismo
- Acervo
- Coleção
- 'Mondadeiras', 1954
'Mondadeiras', 1954
Rogério Ribeiro
Aguarela, tinta-da-china e óleo sobre papel
53,2 x 60,4 cm
Coleção Museu do Neo-Relismo
Nº inv. MNR-R.000178-06
De tons suaves e pastéis, e de traços esboçados, esta pintura de Rogério Ribeiro contrasta formalmente com o seu conteúdo manifesto. A dureza do trabalho que estas mulheres tinham de realizar, de pés e mãos mergulhados nas águas dos arrozais, é essencialmente apreendida por alguns contornos escurecidos que delineiam vagamente alguns dos corpos. Curvadas e sem rostos, a representação centra-se não em cada uma das mulheres, mas num trabalho colectivo que realizam, ritmado, lado a lado. É o gesto que importa à representação, mesmo se esses gestos ocultem as mãos, imersas, que realizam a tarefa. É na atitude corporal das figuras que é consubstanciado o significado social desta obra. A horizontalidade quase prende toda a cena – dada pelas formas femininas e reforçada pela linha negra do horizonte – sendo apenas compensada verticalmente por outra mulher que abraça um molho de plantas de arroz que irá ser cultivado. Braçada de plantas que é realçada pela cor verde para a qual o olhar é compelido também pela sua posição mais elevada que ocupa neste espaço.
Esta obra conhecida por Mondadeiras (embora pareça antes referir-se a uma fase de plantação e não da monda), pode-se considerar pertencente a uma experiência ímpar do neo-realismo que ficou conhecida por Ciclo do Arroz, projecto colectivo impulsionado por Alves Redol, em que escritores e artistas plásticos percorreram os campos ribatejanos em busca do contacto e inspiração estética no próprio povo. Desta jornada resultaram alguns dos mais interessantes trabalhos, e constitui-se ao mesmo tempo um dos expoentes do neo-realismo pictórico.
Luisa Duarte Santos, in Catálogo da Exposição Uma Arte do Povo, pelo Povo e para o Povo, Neo-Realismo e Artes Plásticas, Museu do Neo-Realismo, 2007