- Museu do Neo-Realismo
- Acervo
- Coleção
- Álvaro Cunhal
- Coimbra, 1913 – Lisboa, 2005
Álvaro Cunhal, histórico dirigente do Partido Comunista Português e uma das maiores personalidades políticas e intelectuais do século XX, nasceu em Coimbra a 10 de novembro de 1913 e faleceu em Lisboa a 13 de Junho de 2005.
Estudou na Faculdade de Direito de Lisboa, onde iniciou a sua atividade política. Em 1931 filiou-se no Partido Comunista e em 1935 foi eleito Secretário-geral da Federação das Juventudes Comunistas Portuguesas, passando à clandestinidade um ano depois. Em 1937 entrou para o Comité Central e em 1942 integra o Secretariado do Partido. Em 1949, e após várias detenções temporárias, foi preso no Forte de Peniche, de onde se evadiu a 3 de janeiro de 1960, partindo para o exílio. Regressará a Portugal cinco dias após o 25 de Abril de 1974.
Tornou-se Secretário-geral do Partido em 1961, cargo que ocupou até 1992. Foi ministro nos I, II, III e IV governos provisórios e deputado à Assembleia da República entre 1975 e 1992. Em 1982 tornou-se membro do Conselho de Estado, funções que deixou quando saiu da liderança do PCP.
A par da sua luta política, Álvaro Cunhal foi também um intelectual comprometido com a sua época, que acreditava no poder transformador da arte. Assumiu um papel de relevo no neorrealismo literário ao se envolver desde cedo em polémica com José Régio, assim como na polémica interna do neorrealismo, sendo um dos principais defensores dos cânones do realismo socialista e de um maior protagonismo conteudista na criação artística.
Como escritor destacou-se na área do ensaio e política, publicando, entre outros, Rumo à Vitória: As Tarefas do Partido na Revolução Democrática e Nacional (1964); A Questão Agrária em Portugal (1968); A Revolução Portuguesa: O Passado e o Futuro (1976); As Lutas de Classes em Portugal nos Fins da Idade Média (1980), O Partido com Paredes de Vidro (1985); Acção Revolucionária, Capitulações e Aventura (1994); A Arte, o Artista e a Sociedade (1996), onde sintetiza as grandes linhas de força e pensamento sobre a criação artística; A Verdade e a Mentira na Revolução de Abril: A Contra-Revolução Confessa-se (1999). Colaborou em jornais e revistas como O Diabo, Seara Nova, Vértice, Avante e Militante.
No campo do romance publicou, sob o pseudónimo Manuel Tiago, Até Amanhã, Camaradas (1974), Cinco Dias, Cinco Noites (1975), A Estrela de Seis Pontas (1994); A Casa de Eulália (1997); Fronteiras (1998); Um Risco na Areia (2000); Sala 3 e Outros Contos (2001); Os Corrécios e Outros Contos (2002); e Lutas e Vidas: Um Conto (2003).
Álvaro Cunhal foi também artista plástico, destacando-se “Os Desenhos da Prisão”, executados de 1951 a 1959 nas cadeias da Penitenciária de Lisboa, onde passou sete anos de rigoroso isolamento, e do Forte de Peniche, assim como a capa da 1.ª edição de Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes.
Em 2013 o Museu do Neo-Realismo associou-se às comemorações do centenário do seu nascimento com a exposição Álvaro Cunhal e a criação artística – numa encruzilhada dos homens. A exposição, que teve a curadoria de João Madeira, incluiu uma mostra documental e de artes plásticas, evocando sobretudo o papel de Álvaro Cunhal enquanto artista e intelectual, apesar de, neste caso particular, esses universos de intervenção nunca estarem desligados da sua atividade política.
“Álvaro Cunhal, o jovem inconformado, o resistente antifascista, o dirigente comunista histórico respeitado e prestigiado foi também ensaísta, publicista, artista plástico e escritor. Nele se funde entrega quotidiana e capacidade de sofrimento com pensamento e doutrina, sentido estratégico de combate. Do jovem Cunhal dos primeiros escritos em Estudantes Livres ao critico amadurecido e sagaz de A Arte, o Artista e a Sociedade une-se uma linha de vida cheia e atribulada. Entre as múltiplas tarefas partidárias, as agruras da prisão e o outono da vida, esteve o polemista temido, o desenhista compulsivo, o escritor das manhãs por vir, o historiador do povo em movimento, o tradutor esforçado, o ensaísta polifacetado. Numa encruzilhada de homens, traçando caminhos, viu no ensaísmo crítico e na criação artística instrumento de combate e esteio de uma cultura integral, síntese que quis coerente num século de marés revoltas.”.
João Madeira, curador da Exposição
Fontes
https://alvarocunhal.pcp.pt/elementos-biogr%C3%A1ficos-de-%C3%A1lvaro-cunhal
Catálogo da Exposição Álvaro Cunhal e a criação artística – numa encruzilhada dos homens, Museu do neo-Realismo, 2013.